*O Poema:
LXXVII
(...)
Acaso soube que a Gupeva viera
Certa dama gentil brasiliana;
Que em Taparica um dia comprendera
Boa parte da língua lusitana;
Que português escravo ali tratara,
De quem a língua, pelo ouvir, tomara.
LXXVIII
Paraguaçu gentil (tal nome teve)
Bem diversa de gente tão nojosa,
De cor tão alva como a branca neve,
E donde não é neve, era de rosa;
O nariz natural, boca mui breve,
Olhos de bela luz, testa espaçosa;
De algodão tudo o mais, com manto espesso,
Quanto honesta encobriu, fez ver-lhe o preço.
(...)
LXXXI
Deseja vê-lo o forte lusitano,
Por que interprete a língua que entendia;
E toma por mercê do céu sob'rano
Ter como entenda o idioma da Bahia.
Mas, quando esse prodígio avista humano,
Contempla no semblante a louçania:
Pára um, vendo o outro, mudo e quedo,
Qual junto de um penedo outro penedo.
LXXXII
Só tu, tutelar anjo, que o acompanhas,
Sabes quanto a virtude ali se arrisca,
E as fúrias da paixão, que acende estranhas
Essa de insano amor doce faísca;
Ânsias no coração sentiu tamanhas
(Ânsias que nem na morte o tempo risca),
Que houvera de perder-se naquela hora,
Se não fora cristão, se herói não fora.
Disponível em: http://www.escritas.org/pt/t/12572/canto-ii-acaso-soube-que-a-gupeva-viera
*A Análise:
Frei José de Santa Rita Durão foi um religioso agostiniano brasileiro do período colonial, orador e poeta. Frei José, tendo a Igreja Católica como sua instituição principal, mostra no texto influências de sua religião quando fala de um anjo: [...] "Só tu, tutelar anjo, que o acompanhas," [...].
O autor mantêm a ideia de neoclassicismo e setecentismo. É notável a riqueza de detalhes no poema, bem como o predomínio de uma linguagem simples miscigenada com uma linguagem técnica por seus conhecimentos teológicos e filosóficos do catolicismo.
O poema em si não cita o nome de Deus, mais uma vez comprovando que o movimento literário arcadismo não exalta o teocentrismo, mas o homem que vai chegando aos poucos no centro com seus pensamentos racionais como a ideologia iluminista que foi se ampliando aos poucos, fazendo os povos pensarem em questões que nunca tinham parado para refletir, como a situação política, econômica e social da região específica. É importante colocar em questão, que o livro 'Caramuru' de Santa Rita Durão, é um livro que retrata o descobrimento e a conquista do território da Bahia com narrativas históricas e fazendo um pouco de exaltação das terras do Brasil descrevendo as paisagens e belezas das regiões brasileiras. O livro também descreve a vinda dos europeus, como os portugueses para o litoral do nordeste brasileiro para a colonização e consequentemente a exploração das riquezas do mesmo.
O poema retrata um pouco de amor e paixão: "E as fúrias da paixão, que acende estranhas [...] Essa de insano amor doce faísca; [...] Ânsias no coração sentiu tamanhas." A retratação desse amor e paixão é baseado em figuras de linguagens e com a linguagem da época.
Aluno: Jhonata Schelck da Silva Souza - Turma C
Neste Blog você poderá se aprofundar com as principais obras dos autores dos movimentos literários Barroco e Arcadismo. Você encontrará um material completo, com análises e debates relacionados com ambos os movimentos da literatura. Visando enriquecer o conteúdo, também estará incluído questões do Enem, relacionadas com estes movimentos literários e além de um rico material audiovisual.
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O Frei tem como característica principal falar sobre o nativo brasileiro ,e sempre falar da colonização do Brasil com detalhamento possível .
ResponderExcluirNo poema, o indígena é retpresentado como "o bom selvagem". A narrativa é voltada a aproximar o índio da sua civilidade e não apenas de catequizá-lo.
ResponderExcluirNo poema, o indígena é retpresentado como "o bom selvagem". A narrativa é voltada a aproximar o índio da sua civilidade e não apenas de catequizá-lo.
ResponderExcluirComo o aluno João Victor Menegatti disse, no poema há uma exaltação da natureza e do "bom selvagem", atribuindo aos jesuítas a culpa pelo envolvimento dos índios na luta.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirFrei José de Santa Rita Durão foi um dos precursores do indianismo no Brasil.Nesse texto podemos perceber a exaltação da beleza da índia branca Paraguaçu
ResponderExcluir"De cor tão alva como a branca neve,
E donde não é neve, era de rosa;
O nariz natural, boca mui breve,
Olhos de bela luz, testa espaçosa;"
Esse texto faz parte do livro 'Caramuru, poema que segue a estruturação dos versos camonianos (de Camões) e da epopeia clássicae tem influências da mitologia grega trás a divisão tradicional das epopeias: proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo. Percebemos nessa parte do poema
"Só tu, tutelar anjo, que o acompanhas,
Sabes quanto a virtude ali se arrisca,
E as fúrias da paixão, que acende estranhas
Essa de insano amor doce faísca;
Ânsias no coração sentiu tamanhas
(Ânsias que nem na morte o tempo risca)"o tão grade era a paixão existente entre Caramuru (o português Diogo Álvares Correia) e a bela índia Paraguaçu, e inspirado nesta obra,foi produzido o filme Caramuru, filme brasileiro e com direção de Guel Arraes
A obra apresenta dez cantos, com estrofes de oito versos decassílabos rimados, a compreensão da mulher em uma ligação forte com o amor, a relação com a natureza ( do latim “Locus amenus” –local ameno) e com o acompanhamento das mitologias cristãs e pagãs, composta por deuses indígenas.
ResponderExcluirMuito bem, pessoal. Mas ainda há análises muito superficiais. Há tanto o que se falar sobre essa obra.
ResponderExcluirJean, você não vai participar?
ResponderExcluirNesta poesia se mantêm neoclassicismo estruturado, na poesia o autor com uma linguagem que traz o conhecimento de pensamento filosófico , mas se aproximando se do pensamento racional.
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